20/08/2010

Fabianna Cozza

Demorei a descobri-la. Mas agora estou completamente apaixonada.
Olha se isso não é demais...

14/08/2010

O aniversário da menina negra

Eu estava procurando um texto antigo do Salomão Schvartzman no site da BandNews. Sem grandes pretensões. Queria autorização para divulgá-lo em outro blog que tenho, como uma homenagem a todas as mães.

Na busca, não resisti e parei para ouvir outro texto: "O aniversário da menina negra".
Não estou com vontade de explicar as minhas lágrimas. Mas segue, na íntegra, o texto do Fernando Sabino que é base para a coluna do Salomão naquele dia.


A útima crônica

A caminho de casa, entro num botequim da Gávea para tomar um café junto ao balcão. Na realidade estou adiando o momento de escrever. A perspectiva me assusta. Gostaria de estar inspirado, de coroar com êxito mais um ano nesta busca do pitoresco ou do irrisório no cotidiano de cada um. Eu pretendia apenas recolher da vida diária algo de seu disperso conteúdo humano, fruto da convivência, que a faz mais digna de ser vivida. Visava ao circunstancial, ao episódico. Nesta perseguição do acidental, quer num flagrante de esquina, quer nas palavras de uma criança ou num acidente doméstico, torno-me simples espectador e perco a noção do essencial. Sem mais nada para contar, curvo a cabeça e tomo meu café, enquanto o verso do poeta se repete na lembrança: “assim eu quereria o meu último poema”. Não sou poeta e estou sem assunto. Lanço então um último olhar fora de mim, onde vivem os assuntos que merecem uma crônica.
Ao fundo do botequim um casal de pretos acaba de sentar-se, numa das últimas mesas de mármore ao longo da parede de espelhos. A compostura da humildade, na contenção de gestos e palavras, deixa-se acrescentar pela presença de uma negrinha de seus três anos, laço na cabeça, toda arrumadinha no vestido pobre, que se instalou também à mesa: mal ousa balançar as perninhas curtas ou correr os olhos grandes de curiosidade ao redor. Três seres esquivos que compõem em torno à mesa a instituição tradicional da família, célula da sociedade. Vejo, porém, que se preparam para algo mais que matar a fome.
Passo a observá-los. O pai, depois de contar o dinheiro que discretamente retirou do bolso, aborda o garçom, inclinando-se para trás na cadeira, e aponta no balcão um pedaço de bolo sob a redoma. A mãe limita-se a ficar olhando imóvel, vagamente ansiosa, como se aguardasse a aprovação do garçom. Este ouve, concentrado, o pedido do homem e depois se afasta para atendê-lo. A mulher suspira, olhando para os lados, a reassegurar-se da naturalidade de sua presença ali. A meu lado o garçom encaminha a ordem do freguês.
O homem atrás do balcão apanha a porção do bolo com a mão, larga-o no pratinho – um bolo simples, amarelo-escuro, apenas uma pequena fatia triangular. A negrinha, contida na sua expectativa, olha a garrafa de Coca-Cola e o pratinho que o garçom deixou à sua frente. Por que não começa a comer? Vejo que os três, pai, mãe e filha, obedecem em torno à mesa um discreto ritual. A mãe remexe na bolsa de plástico preto e brilhante, retira qualquer coisa. O pai se mune de uma caixa de fósforos, e espera. A filha aguarda também, atenta como um animalzinho. Ninguém mais os observa além de mim.
São três velinhas brancas, minúsculas, que a mãe espeta caprichosamente na fatia do bolo. E enquanto ela serve a Coca-Cola, o pai risca o fósforo e acende as velas. Como a um gesto ensaiado, a menininha repousa o queixo no mármore e sopra com força, apagando as chamas. Imediatamente põe-se a bater palmas, muito compenetrada, cantando num balbucio, a que os pais se juntam, discretos: “Parabéns pra você, parabéns pra você…” Depois a mãe recolhe as velas, torna a guardá-las na bolsa. A negrinha agarra finalmente o bolo com as duas mãos sôfregas e põe-se a comê-lo. A mulher está olhando para ela com ternura – ajeita-lhe a fitinha no cabelo crespo, limpa o farelo de bolo que lhe cai ao colo. O pai corre os olhos pelo botequim, satisfeito, como a se convencer intimamente do sucesso da celebração. Dá comigo de súbito, a observá-lo, nossos olhos se encontram, ele se perturba, constrangido – vacila, ameaça abaixar a cabeça, mas acaba sustentando o olhar e enfim se abre num sorriso.
Assim eu quereria minha última crônica: que fosse pura como esse sorriso.”
Fernando Sabino

03/08/2010

Hã?

Eu dividia as pautas que o pessoal ia cobrir para o jornal, direcionando cada profissional para uma parte da cidade numa tentativa de otimizar a produção.

Pausa para o parênteses! Você deve estar se perguntando "o que é uma pauta?"
Nesta situação, e para ser simplista, pauta é uma espécie de requisição de serviço que tem dados sobre um assunto que vai virar reportagem.

De volta à minha história - era um enrosco fazer a divisão de pautas de maneira racional e super produtiva. Tinha dias que parecia um jogo de xadrez.
Naquele início de tarde a coisa parecia quase resolvida. Mas tinha uma especificamente que não se encaixava em nada e sempre resolvia voltar às minhas mãos.
Ah! Naquela época as pautas eram escritas a mão.
E aquela pauta que ia e vinha era requisitada por alguém com um nome um tanto, digamos, diferente. Eu não sei se ela era mesmo complicada de resolver ou se eu é que estava inconformada com a estranha alcunha da pessoa que a solicitara.
Na minha indignação, me perguntei - em voz alta -  mil vezes: "Que mãe filha da puta coloca um nome desses numa criança?!".
Lia e relia a ordem de serviço. E a cada vez ficava mais incomodada. E questionava mais vezes e mais alto.
Inconformada, perguntava para os fotógrafos a minha volta.
"Jorge, o que tem na cabeça uma mãe que chama a filha de Atanagilda?"
"Ô Socó! Que merda de nome é esse?"
Só o silêncio. Ninguém me dava uma resposta e eu sofria com o raro nome.
Enfim, depois de muito aquele papelzinho azul (lembro até hoje) ir e voltar entre os meus dedos, atingi o auge da minha indignação: "Mas essa letrinha horrorosa também não ajuda!!!! Afinal, é Atanagilda ou Atanagééélda?"
Foi quando uma vozinha tímida praticamente sussurou atrás de mim:
"É Atanagilda… sou eu…"

02/08/2010

Semana Mundial de Aleitamento Materno

Eu ainda amamento.
É.
"Ainda".
Por que "ainda"? Porque minha filha tem um ano e meio.

Não tenho problemas com isso. Mas parece que muita gente ao meu redor tem.

"Por que amamentar uma criança que já anda?"
"Você amamenta uma criança que praticamente fala?"
E, sempre, com ar de indignação. Ou, no mínimo , com a cabecinha caída levemente para o lado e os olhos duros.

Meu desabafo: estou cansada de críticas caladas.

É muito simples. Nenhuma desgraça se abaterá sobre a mãe ou sobre a criança. Também não é nenhuma desvio. Não serão causados danos na personalidade de ninguém. A criança não deixará de comer. Blablablabla.

É muito simples. Deixem de ser preconceituosos. Informem-se. Comparem com os outros mamíferos. Falem com médicos. Leiam os jornais. Procurem informação oficial.

E se nada disso adiantar, leiam as instruções da caixinha de leite.

Infância?

Footing. Empurrando o carrinho com o meu bebêzão e batendo minhas perninhas pelo bairro para o sangue circular.
Estava dando a volta na praça Buenos Aires. Quase começando a escurecer. Temperatura agradável. Bela noite caindo sobre São Paulo.
Eu andava rápido.
Na frente, bem na frente, iam dois garotos, um com uns sete anos e outro com uns 14. Pareciam discutir, mas o mais velho ria um bocado. Eu me aproximando. Perto, percebi as caixinhas com panos de prato para vender. Enquanto os ultrapassava, pude ouvir a conversa:
- Parquinho! - chorando
- Porquinho?!! - rindo
- PARQUINHO!!!! - implorando
- Barquinho????!!!! - debochando
- P-A-R-Q-U-I-N-H-O!!!!!!! - lágrimas
- Porquinho??!!!! - desvirtuando
Doeu em mim. Muito.
Dói ainda.