13/09/2015

Profissão: inquieta


Não sei parar quieta. Gosto e preciso trocar de atividade e aprender algo novo.

As vezes olho para trás e tenho xiliques por não ter construído nada linear, por  não ter um conhecimento organizado para dividir com quem está a minha volta.
Já em outros momentos, olho para trás e vejo a incrível fliexibilidade que tive para passar por tantos caminhos deliciosos de aprendizagem.

Quando tinha sete anos queria ser médica porque achava o meu pediatra um gato. (Verdade!!!)
Com treze, queria ser escritora pois tinha um orgulho absurdo das redações que fazia.
Sempre desenhei relativamente bem. E com quatorze ou quinze fui fazer segundo grau técnico em Desenho Industrial, talvez na melhor escolar da cidade. Lá me deram instrumentos e tiraram o lápis da minha mão. Aprendi que meus desenhos artísticos não cabiam naquele lugar. Resultado: me saí bem, cumpri disciplinas que me deram noção desde arquitetura, projetos, programação visual, história da arte (desenvolvi novos amores aí), resistência de materiais e um mundo de coisas. Mas nunca me tornei uma designer espetacular. E porque fui medíocre decidi seguir outro caminho.
Fui fazer Jornalismo numa faculdade pública no interior do Paraná. Com 17 anos morava sozinha. Cresci. E curti jornalismo. E curti a cidade do interior. E curti passar aperto. Tinha dias que almoçava bolacha recheada para economizar. Muitas vezes ia para a estrada e pegava carona para passar o final de semana com meu namorado e minha família. Mas foi muito bom. E tive muita sorte. 
No mês em que acabaram as aulas da faculdade no último ano, consegui um teste de fotógrafa no maior jornal da cidade. Passei. E fiquei lá sete anos, rodando toda a cidade e todos os assuntos possíveis. Cobri as editorias policial, esporte, política, moda, cultura, economia. Aprendi a revelar e copiar as fotos no papel. Aprendi a mexer com as primeiras máquinas digitais. Aprendi a ter amor pelo que fazia e compromisso com a equipe. Acredito que tenha sido a melhor fase da minha vida. Mas sou inquieta e não poderia ter vivido aquilo para sempre. Construí a minha saída e fui trabalhar com markentig. Tentar trabalhar.
Conheci seu pai. Eu num trabalho medíocre, que não durou muito. 
Fui para outro lugar, uma indústria têxtil em Santa Catarina. Cuidava de duas marcas, uma careta e tradicional e outra jovem e moderninha. Não durou muito também. Vim para São Paulo atrás do meu amor.
Cheguei aqui empregada numa revista de moda, de um ex-fornecedor. Não me entendi com o mundo da moda. É muito divertido, mas absurdamente descartável e fútil.
Fui para as assessorias de imprensa. Tecnologia, negócios, entretenimento. Lancei um canal de tv para negros. Sucesso de mídia internacional. Foi um case premiado nacionalmente. E aí fui para o outro lado, a grande indústria multinacional.
Teria sido a vida mais confortável do mundo financeiramente e em termos de crescimento. Mas, sou inquieta. 
Fui para concessão, meio público, mas privado e com muito capital. Dinheiro rolando para todo lado. Aprendi alguns mecanismos do lado sujo dos negócios. Convivi com muita gente bacana, mas errada. E veio você.
Sortuda que sou, ganhei lastro para ser mãe durante um ano inteiro.
E nunca mais voltei para o mercado de trabalho. 

Hoje, sete anos depois, ainda tenho alguns terninhos e taileurs no armário. Acho que é um misto de saudade com esperança de reviver aquele mundo de competitividade. Mas me sinto num lugar muito mais meu. Tudo começou porque não fazia mais sentido nenhum tipo de trabalho no qual eu estivesse construindo algo que não deixasse um legado, ainda que mínimo, para o futuro. E correto.

Quando vejo as crianças que passam pela nossa Casa e o quanto elas se transformam (mesmo que fiquem pouco tempo por lá), reitero que descobri o caminho certo. Ainda não é do jeito que eu queria, mas já é muito bom.

E, de novo, as vezes, tenho vontade de mudar. Sou inquieta.
E tenho vontade de fugir, abandonar tudo. Sou inquieta.
Mas hoje vejo que o que fazemos ajuda a construir um mundo melhor. O mundo no qual você vai viver. O que construímos é o que me possibilitou viver de verdade ao seu lado, te conhecer, te apertar. E é assim que vou ficando. Menos inquieta.
Para que seja mais fácil ficar, o destino vai colocando pedras novas no meu caminho.
No início da Casa do Brincar, eu cuidava da comunicação e das crianças. Depois fui para o administrativo. Hoje, aprendi a criar mundos de brincadeira e vender eventos. E levo a nossa história para mais e mais lugares.

O caminho é hamônico. Sempre tem uma novidade que tentar me aquietar. E acontece assim, naturalmente.

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