Não sei parar
quieta. Gosto e preciso trocar de atividade e aprender algo novo.
As vezes olho para
trás e tenho xiliques por não ter construído nada linear, por não ter um
conhecimento organizado para dividir com quem está a minha volta.
Já em outros
momentos, olho para trás e vejo a incrível fliexibilidade que tive para passar
por tantos caminhos deliciosos de aprendizagem.
Quando tinha sete
anos queria ser médica porque achava o meu pediatra um gato. (Verdade!!!)
Com treze, queria
ser escritora pois tinha um orgulho absurdo das redações que fazia.
Sempre desenhei
relativamente bem. E com quatorze ou quinze fui fazer segundo grau técnico em
Desenho Industrial, talvez na melhor escolar da cidade. Lá me deram
instrumentos e tiraram o lápis da minha mão. Aprendi que meus desenhos
artísticos não cabiam naquele lugar. Resultado: me saí bem, cumpri
disciplinas que me deram noção desde arquitetura, projetos, programação visual,
história da arte (desenvolvi novos amores aí), resistência de materiais e um
mundo de coisas. Mas nunca me tornei uma designer espetacular. E porque fui
medíocre decidi seguir outro caminho.
Fui fazer
Jornalismo numa faculdade pública no interior do Paraná. Com 17 anos morava
sozinha. Cresci. E curti jornalismo. E curti a cidade do interior. E curti
passar aperto. Tinha dias que almoçava bolacha recheada para economizar. Muitas
vezes ia para a estrada e pegava carona para passar o final de semana com meu namorado
e minha família. Mas foi muito bom. E tive muita sorte.
No mês em que acabaram
as aulas da faculdade no último ano, consegui um teste de fotógrafa no maior
jornal da cidade. Passei. E fiquei lá sete anos, rodando toda a cidade e todos
os assuntos possíveis. Cobri as editorias policial, esporte, política, moda, cultura,
economia. Aprendi a revelar e copiar as fotos no papel. Aprendi a mexer com as
primeiras máquinas digitais. Aprendi a ter amor pelo que fazia e compromisso
com a equipe. Acredito que tenha sido a melhor fase da minha vida. Mas sou inquieta e
não poderia ter vivido aquilo para sempre. Construí a minha saída e fui
trabalhar com markentig. Tentar trabalhar.
Conheci seu pai. Eu
num trabalho medíocre, que não durou muito.
Fui para outro lugar, uma indústria
têxtil em Santa Catarina. Cuidava de duas marcas, uma careta e tradicional e
outra jovem e moderninha. Não durou muito também. Vim para São Paulo atrás do
meu amor.
Cheguei aqui
empregada numa revista de moda, de um ex-fornecedor. Não me entendi com o mundo
da moda. É muito divertido, mas absurdamente descartável e fútil.
Fui para as
assessorias de imprensa. Tecnologia, negócios, entretenimento. Lancei um canal
de tv para negros. Sucesso de mídia internacional. Foi um case premiado
nacionalmente. E aí fui para o outro lado, a grande indústria multinacional.
Teria sido a vida
mais confortável do mundo financeiramente e em termos de crescimento. Mas, sou inquieta.
Fui para concessão, meio público, mas privado e com muito capital. Dinheiro rolando para todo
lado. Aprendi alguns mecanismos do lado sujo dos negócios. Convivi com muita
gente bacana, mas errada. E veio você.
Sortuda que sou,
ganhei lastro para ser mãe durante um ano inteiro.
E nunca mais voltei
para o mercado de trabalho.
Hoje, sete anos depois, ainda tenho alguns
terninhos e taileurs no armário. Acho que é um misto de saudade com esperança
de reviver aquele mundo de competitividade. Mas me sinto num lugar muito mais
meu. Tudo começou porque não fazia mais sentido nenhum tipo de trabalho no qual eu
estivesse construindo algo que não deixasse um legado, ainda que mínimo, para o
futuro. E correto.
Quando vejo as
crianças que passam pela nossa Casa e o quanto elas se transformam (mesmo que
fiquem pouco tempo por lá), reitero que descobri o caminho certo. Ainda não é do
jeito que eu queria, mas já é muito bom.
E, de novo, as
vezes, tenho vontade de mudar. Sou inquieta.
E tenho vontade de
fugir, abandonar tudo. Sou inquieta.
Mas hoje vejo que o
que fazemos ajuda a construir um mundo melhor. O mundo no qual você vai viver.
O que construímos é o que me possibilitou viver de verdade ao seu lado, te
conhecer, te apertar. E é assim que vou ficando. Menos inquieta.
Para que seja mais
fácil ficar, o destino vai colocando pedras novas no meu caminho.
No início da Casa
do Brincar, eu cuidava da comunicação e das crianças. Depois fui para o
administrativo. Hoje, aprendi a criar mundos de brincadeira e vender eventos. E
levo a nossa história para mais e mais lugares.
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